terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caros Leitores,

Lamento profundamente mais um longo período de ausência deste espaço.
Poderia enumerar diversos motivos para tão longo afastamento, mas vou simplesmente fazer referencia a um par deles que para mim talvez sejam os mais significativos. Houveram na minha vida, acontecimentos de índole pessoal que me condicionaram muito a vontade de escrever... a vida tem destas coisas... felizmente, todos eles estão de momento resolvidos e não me impedem de voltar. Por outro lado, a minha convivência com o HIV tornou-se ao longo do tempo em algo normalizado... deixei de me sentir vitima do que quer que fosse e aceitei tal facto como mais uma condicionante do meu quotidiano com a qual teria que continuar em frente... e foi isso mesmo que tenho estado a tentar fazer.
Mais recentemente, tive o prazer de ser convidado para alguns eventos ligados com a comemoração em Portugal do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA.

Enche-me o peito de orgulho de que um colectivo dedicado às sexualidades e aos afectos, e cujo lema é "Pela Universalidade do Direito à Felicidade", tenha em 2009 aceite uma proposta lançada por mim para a realização de uma vigília em memória das vitimas do HIV pelo mundo fora, já que é um acto inédito no nosso país e que se repetiu com uma boa aceitação também este ano.
Para além de marcar presença em dita vigília, foi com muito orgulho que aceitei também participar numa tertúlia organizada pelo mesmo colectivo na noite do dia 1/12 dedicada ao tema: VIH, mitos e realidades. Tivemos oportunidade de abordar temas de extrema importância e que requerem grande parte de coragem para serem abordados em público, mas cuja referencia é uma necessidade imperativa no sentido de esclarecer, educar, prevenir e ajudar a quem se interessa pelo assunto. Muito ficou por dizer, uma vez que o tema é extenso e delicado, mas deixou em todos a vontade de continuar a dinamizar mais sessões como esta e assim chegar a maior numero de temas e de publico.
Eu, reúno condições para poder mais livremente abordar temas de uma perspectiva intimista, sem ter que me preocupar grandemente dos efeitos que tais pronunciações possam ter na minha vida quotidiana, talvez em grande parte, pelo facto de não residir em Portugal e de não ser uma pessoa conhecida...
Assim, vi reforçada uma responsabilidade auto-imposta de participar de forma activa na desmistificação da problemática do HIV e na educação/ formação nestes assuntos. A maneira mais acessível e mais fácil de o fazer é através deste blog, porque muito embora poucas sejam as pessoas que se atrevem a deixar comentários, sei que muitos mais são as pessoas que o lêem e que podem verificar através das minhas experiências de vida, que a vida com HIV, continua a poder ser vivida com dignidade e de uma maneira tranquila e feliz. Por isso, gostaria de convidar os leitores a consultarem comigo, ou bem por comentário ou bem através de email qualquer pergunta que possam ter acerca de qualquer dos assuntos por mim abordados neste blog. Nada me deixaria mais feliz e mais motivado a continuar com a escrita, do que sentir que posso, de uma maneira directa e pessoal, contribuir para a desmistificação, esclarecimento, (in)formação, etc do HIV/SIDA. Porque no fundo, independentemente da condição serológica, somos pessoas de pleno direito, e muitas vezes necessitamos informar-nos acerca daquilo que desconhecemos para poder aceitá-lo, de forma responsável, e não criar os mitos inerentes nas nossas cabeças, mitos esses que derivam frequentemente em actos discriminatórios por simples desconhecimento...
Espero em breve ter oportunidade de voltar à narrativa e tocar temas que sei que tenho pendentes... até lá, tudo de bom... e sobretudo, muita paz!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Glee Cast - Smile - Charlie Chaplin Version


Sorriam... Mesmo quando a vida nos dá poucos motivos para o fazer, o simples esboçar de um sorriso aligeira a alma e faz com que se tenha uma perspectiva mais optimista sobre a vida. Nao custa nada. É grátis, e nao se gasta... E além disso, é contagioso, pelo que ao sorrir, estas a receber os sorrisos de quem se cruza contigo, fazendo o teu dia algo mais alegre e fácil...
Que a vida tenha sempre um sorriso para todos vós.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Notícias de Verao




Mais uma longa ausência... era aquilo que vos dizia há já algum tempo, por vezes não podemos viver e relatar a vida ao mesmo tempo, é preciso parar de a contar para a viver...
E essas vivências nem sempre são as mais esperançadoras, nem as melhores, nem sequer as que esperávamos, mas todas elas juntas são as que compõem a manta de retalhos que é a própria vida.
Desta vez, a ausência deveu-se a um momento de reflexão pessoal e conjugal. Não gosto demasiado de me meter pelos meandros da minha intimidade, mas contando com algum anonimato (e digo algum porque começo a contar com alguns leitores que me conhecem pessoalmente), posso fazer uma pequena incursão sem me sentir completamente violentado...

As relações duradoiras têm destas coisas... Se bem que não sou apegado a superstições nem a lugares comuns sobre os percursos das relações, uma vez que cada pessoa é um mundo (ergo, numa relação a dois as possibilidades são exponenciais)o certo é que muitas vezes ouvi falar da crise dos sete anos, e eis que surge justamente quando estamos juntos há sete anos e meio... mas enfim, uma das coisas que aprendi com a minha entrada nesta nova fase da minha vida, pós-HIV, foi que muitas vezes, há coisas que simplesmente não estão na nossa mão, e é necessário permitir que o destino e o livre arbítrio possam exercer as suas funções. Afortunadamente, parece ser que estamos já de saída deste impasse que durou demasiado tempo, e quase logrou consumir a minha própria essência... e pensar em realizar uma entrada no Blog sobre o divórcio pouco depois de vos ter contado o casamento, parecia-me irónico,ilógico, inconsequente para comigo mesmo, e de mau gosto.

Bem, além deste precalce, a vida cá continua. Foi com muito gosto que um dia me encontrei com a noticia sobre a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal, se bem que na minha opinião pessoal, esta lei é um perfeito tiro no próprio pé da comunidade LGBT portuguesa. Passo a explicar: O Artigo 13 da nossa Constituição diz:
"1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual."
Ora, a lei 9/2010 de 31.05.2010 desrespeita o numero 2 do referido Art. 13 da Constituição da República no que refere à não discriminaçao quanto ao direito/dever de adopção.
A meu ver, não se trata de uma questão de se os matrimonio LGBT têm ou não o direito/dever de adoptar, mas sim de uma questão humana do direito à protecção familiar a prestar a menores em situação de adopção. Obviamente será preferível que os menores tenham a oportunidade de ser integrados numa família, seja do tipo que fôr, em contraposição a serem submetidos a um internamento, muitas vezes de qualidade questionável, em instituições de carácter social. Os menores têm o direito a ter uma família, um entorno afectivo e educativo, no qual se encontrem asseguradas todas as suas necessidades pessoais e/ou humanas.

Voltando à minha vidinha, devo confessar que não está nos meus planos adoptar, pelo menos num futuro próximo, embora a lei Espanhola mo permita, já que não poderia assegurar a cobertura das necessidades materiais de uma criança. A crise continua a fazer estragos na economia doméstica, e não creio que seja o momento. Mas devo confessar que a ideia de adoptar uma criança seropositiva e poder proporcionar-lhe um lar, uma família, um meio afectivo favorável e compreensivo, me tem cruzado a mente várias vezes... espero não deixar este mundo sem ter a oportunidade de o fazer.

Em questões de saúde, tudo continua sobre rodas, pelo menos por enquanto. A minha carga viral continua subjugada à tirania dos fármacos anti-retrovirais, e os meus linfócitos T CD4+ vão-se multiplicando e estão cada vez mais fortes e frondosos!
Uma coisa porém me tem preocupado... circula um rumor entre os pacientes com HIV em Espanha, de que a medicação que estou a tomar (Atripla - terapia tripla de grande actividade agrupada numa só pastilha diária) irá ser retirada do mercado Espanhol sob o pretexto de cortes orçamentais na Saúde Pública Espanhola... Uma vez que esta terapia é extremamente cómoda e está a surtir os efeitos terapêuticos desejados quase sem efeitos secundários, a hipotética retirada deste fármaco é algo que me irrita profundamente.
Já sei que há milhões de pacientes noutros países e continentes que não têm oportunidade de aceder a qualquer tipo de medicação para o HIV, e que em comparação a minha reivindicação torna-se quase miseravelmente ridícula... mas num contexto local de um país dito de primeiro mundo, na realidade é um facto que me incomoda... A crise e a necessidade de reduzir gastos públicos será assim tão bestial que obriga a reduzir gastos neste campo, num país em que uma parte importante da população se dedica a labores estatais? Num país em que existem Senadores, Deputados nacionais, Governos regionais, deputados regionais, Edis municipais e afins? É preciso ver a quantidade de pessoas que isso engloba... São quase mais a mandar/decidir que a executar/obedecer... e tudo isto à conta do erário público, custeado pelos impostos que pagam não só os espanhóis, mas todos os que vivemos neste país...



Falando de temas menos densos, tive a oportunidade de estar presente na Marcha do Orgulho Gay de Madrid 2010. À cabeceira lá vinha a faixa sobre a visibilidade das pessoas que (con)vivem com HIV, tema que já tive oportunidade de abordar e manifestar a minha opinião pessoal anteriormente. Admiro a coragem de quem se prestou a levá-la na marcha. Além disso, foi uma tarde divertida, que passei em companhia de amigos, rodeado de um bom ambiente admirável, e que para falar verdade me proporcionou momentos de grande satisfação, culminando com um concerto de Kylie Minogue que presenciei quase em primeira fila e que desfrutei muito.

Só me resta desejar a tod@s @s que gentilmente visitam este espaço um excelente Verão e umas férias de descanso que tanto merecemos e desejamos...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Angels In America [ Official HBO Trailer ]



Pela primeira vez neste Blog, uma recomendaçao cinematográfica: "Angels In America". Inicialmente editado para uma mini-serie, que pode ser aglomerada em 2 filmes sobre a problemática da SIDA numa fase inicial da epidemia. Conflitos e esperiencias de um realismo extremo e sentido...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O travo agridoce de un casamento secreto



Já passaram 14 meses desde aquele dia, mas, como quase toda a gente, foi um dia que jamais esquecerei. Começo por assinalar que o nosso casamento não foi um casamento qualquer, para além obviamente de que os contraentes éramos ambos do sexo masculino... Haviam outros factores que faziam a nossa união ainda mais invulgar:
Um deles estava relacionado com o facto de o meu marido, procedente de um país de fora da União Europeia, uma vez terminados os seus estudos, ficou em situação irregular, ou seja, ilegal. Legalidade essa que recuperaria com o casamento;
Outro factor devia-se ao facto de ambos estarmos longe das respectivas famílias e amigos, e portanto, no casamento para além dos noivos e do pessoal do registro, estiveram 5 pessoas... sendo que duas dessas cinco foram as que assinaram como testemunhas...
Outro factor estava relacionado com a forma como foi planeado. A minha família desconhece, pelo menos de minha boca, a minha orientação sexual, à excepção da minha mãe, que uma das coisas que muito me pediu foi que não me casasse porque num futuro e se acontecesse alguma coisa, com o revirar de papeladas, o resto da família poderia vir a saber...(mãe, com a sua mentalidadezinha antiquada e ingénua, não se dá conta de que se "acontecer alguma coisa" quiser dizer "bater as botas" pouco me importa que se saiba com quem me deito...olha, "cheio de penas me deito, e com mais penas m'alevanto"como a Amália!...)
Como podem imaginar, a obtenção da documentação necessária foi uma comédia! Aproveitei uma viagem relâmpago a Portugal e pedi uma certidão de nascimento, que um amigo meu faria o favor de levantar, de levar a que colocassem a Apostilha de Haia, e enviar-ma por correio, para que depois eu a levasse a um tradutor juramentado para traduzi-la ao castelhano. A documentação do meu marido foi mais fácil de obter, uma vez que a sua família está ao corrente da nossa relação e apoiou o facto de nos casarmos, embora ninguém saísse do seu caminho por estar presente...Mas a documentação chegou.
Também foi única, porque à época, não tínhamos um vintém. Estávamos completamente sem dinheiro, e por isso, lá nos casamos em fatos que retiramos do nosso armário, camisas daquelas do fundo do gavetão e gravatas dessas que se guardam em caixinhas mas que nunca se tinham chegado a estrear. As alianças, essas, foram as mesmas alianças de prata que usamos quase desde que nos conhecemos, compradas a um vendedor ambulante muitos anos antes nas Ramblas de Barcelona...
Claro que o "Copo de Água" por pouco não o era literalmente. Fomos a um barzito próximo, beber umas cervejinhas com as 5 pessoas que vieram, pagando uma rodada, e vendo como cada um dos demais fazia o mesmo... e daí cada um para sua casinha...
Houveram ainda mais peripécias. Na véspera, a caminho da localidade onde nos íamos casar, em plena auto-estrada aparece-me um galgo na via enquanto ultrapassava um camião e não me deu tempo para nada. Matei o bicho, para grande pena minha, e fiquei sem carro... Acabamos a viagem em táxi depois de duas horas na berma à espera do reboque, mas não foi antes de chegar ao nosso destino que nos demos conta de que nos tínhamos esquecido dos fatos com os documentos nos bolsos, no meu carro, que estava imobilizado numa oficina a 100Km de nós. Ora na manha do casamento lá tive de pedir um carro emprestado, levantar-me de madrugada para ir buscar o que me tinha esquecido. 100Km para um lado... 100Km para outro...
Obviamente não foi o casamento que nenhum de nós sonhara. Muito menos sem família do meu marido presente, e amigos meus de Portugal que são uma segunda família... tendo que mentir e manter em segredo ante a minha verdadeira família por uma questão de mentalidades... Mas foi o casamento possível. E o curioso é que não podíamos deixar de sorrir nesse dia. Estávamos FELIZES apesar de tudo. Não porque o casamento significasse o quanto nos amamos nem o quanto queremos estar juntos, para isso não nos faz falta um papel, mas por sentir que de alguma maneira, nesse dia éramos cidadãos de pleno direito. Que ainda por cima, sendo seropositivos, não haveria jamais impedimento a que um visitasse o outro num hospital se alguma vez fizesse falta, e que se um de nós acaba por falecer antes do outro, que pelo menos esse poderá solicitar uma pensão de viuvez, e até ter direitos sucessórios, antes dos irmãos ou sobrinhos virem rapinar aquilo que aos dois nos custou juntar ao longo da vida.
Não era pela ilusão boba de nos casarmos, mas sim, por primeira vez em longos anos, nos sentirmos enjustiçados, igualados em direitos a qualquer outra pessoa, já que os deveres já nos são impostos de igual maneira.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

(In)Visibilidade




Car@s amig@s,

Este é um tema que está cada vez mais em voga. Se bem vos digo que as pessoas que decidem fazer pública uma parte importante da sua intimidade, como pode ser o seu estado serológico, me merecem todo o respeito e admiração,no que respeita à minha pessoa, e por alguma experiência neste campo, vos digo que não pretendo torná-lo mais publico e/ou notório do que é actualmente.
Tenho a facilidade de viver num país estranho, em que pouca gente me conhece, em que provavelmente a tentativa de ostracização da sociedade frente a mim, não surtiria grande efeito, visto me encontrar já em muitos aspectos ostracizado.
Penso unicamente nos benefícios ou prejuízos pessoais que poderiam advir dessa decisão. Como benefício, deixaria de olhar por cima do ombro quando numa noite de jantar ou copos com amigos, chega a hora de tomar a medicação e, furtivamente me escapo à casa de banho para a tomar sem suscitar perguntas incómodas... provavelmente, deixaria de entrar "encolhido" no hospital, cada vez que tenho de ir buscar mais pastilhas, fazer análises ou ir à consulta, com medo de encontrar alguém conhecido que desconheça esta parte da minha vida...
Deixaria de passar os controlos nos aeroportos com o credo na boca, não vão os agentes de segurança dar com as pastilhinhas e pensar que ando a traficar!...
Como prejuízos, vislumbro uns quantos mais:
Aquando do diagnóstico, trabalhava na clínica de uma colega de profissão algumas horas por dia. Obviamente, não me encontrava no meu melhor, com mudanças de humor repentinas e provavelmente o trato que dava aos pacientes não seria o mais simpático, aquele a que os tinha acostumado, mas jamais descurei a imaculada perfeição dos meus actos clínicos e a exactidão da sua execução. O meu brio profissional não me permitiria nunca fazê-lo. Pouco tempo tinha transcorrido, quando a minha colega e dona da clínica, me chamou para conversar. Tanto me entalou com a história e tanto insistiu que acabei por lhe dizer o que me estava a acontecer... Erro crasso!!! Poucos dias depois, aproveitando o pretexto da crise mundial, e a consequente diminuição no volume de pacientes, decidiu prescindir dos meus serviços na sua clínica (onde trabalhava como independente, logo, sem direitos), não sem aproveitar para dizer que assim que as coisas melhorassem, em lugar de contactar outro profissional, me chamaria a mim, que já sabia como trabalhava e que já era conhecido e apreciado pelos pacientes...
Vim a saber que pouco mais de um mês depois disso, já o meu lugar estava ocupado por outro profissional...
E isto, meus amigos, dentro do sector Saúde... imaginem outros sectores de trabalho que não tenham por obrigação profissional, saber os riscos (a ausência deles, melhor dizendo) de empregar pessoas Seropositivas...
Isto é só um exemplo, vivido em carnes próprias, isso sim. Depois deste desagradável episódio, dediquei mais tempo a trabalhar na minha própria clínica, a formar uma carteira de pacientes estável que me dê para viver. Não quero imaginar Se no bairro onde a tenho, se chegasse a saber que o Dr. Zé Ninguém é "sidoso"... aí, além de tudo o mais, provavelmente morreria à fome ou acabaria na indigência...
Por isso meus amigos, visibilidade para quem a queira. Além disso, creio que é bastante positivo que a sociedade veja que qualquer pessoa, independentemente do seu aspecto físico, de classe social, sexo e orientação sexual, idade, etc pode ser seropositivo, e não por isso menos pessoa do que qualquer um. Mas também penso que actualmente a maioria das pessoas que tornam visível a sua seropositividade, são pessoas que pouco têm a perder, uma vez que a doença já deixou marcas nas suas vidas e nos seus corpos, e que por isso, não vivem de um trabalho, mas de uma pensão do estado. Essas sequelas da doença que tanto os estigmatizaram, afortunadamente já não estão na ordem do dia com as novas medicações.
Por isso, e porque felizmente pertenço já a essa nova geração de seropositivos que tem acesso a medicações menos tóxicas e com menos efeitos secundários, tentarei viver com a maior normalidade possível, e não revelando o meu estado serológico, mas antes vivendo-o com normalidade.
Falta referir os efeitos da visibilidade no seio das famílias, mas isso será outra história.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

...a vida continua... continuo com vida!...




Olá car@s amig@s:

Pela primeira vez este ano, cá me aventuro a escrever algumas linhas neste espaço que confesso ter descuidado por muito mais tempo do que se merece. Aproveito para agradecer a todos os que durante este tempo foram passando por este espaço e continuaram a deixar algum comentário. É graças a vós que cá estou de novo!
Os dias que se vivem, não são de todo fáceis. Houveram muitos acontecimentos, nem todos agradáveis, com alguns sustos à mistura, mas como diz o povo "Vaso ruim não quebra" e continuo a fazer o meu trabalho deste lado do espelho dos espíritos; já virá a hora de atravessar o espelho e continuaremos a trabalhar desde o outro lado.
Entretanto, o susto que me deu a Pneumonia que padeci recentemente, fez-me reflectir sobre temas metafísicos e transcendentais que terei oportunidade de vos transmitir numa próxima entrada a que chamaremos algo assim como "Urzes, Malvas e Aciprestes".
A vida quotidiana é, em consequência, rotinária e por vezes monótona, mas é curioso como nos podemos refugiar muitas vezes na rotina para sentir esse aconchego de que tudo está bem... de que tudo decorre com normalidade... Sim, porque rotinário não tem que ser sinónimo de aborrecido!
Nestes meses, como devem imaginar, houve tempo para todo o tipo de sensações e sentimentos. Alguns fiéis ao homem que antes fui, que fazia jus ao poema:

"Amar ou odiar
Ou tudo ou nada
O meio termo é que não pode ser
A alma tem de estar sobressaltada
Para o nosso barro sentir; viver
Não é uma Cruz que não se queira pesada
Metade de um prazer, não é um prazer!
E quem quiser a vida sossegada
Fuja da vida e deixe-se morrer!
Vive-se tanto mais quanto se sente
Todo o valor está no que sofremos
Amemos muito como odiamos já!
A verdade está sempre nos extremos
Pois é no sentimento que ela está."
(Fausto Guedes Teixeira)

Outros mais vividos, mais maduros ou mais desalentados, seguindo uma corrente de aceitação que quase roça o laissez faire, laissez passer na qual não vale a pena lutar por mudar o que não está em nosso poder mudar, mas sim aceitar as coisas como elas são e tratar de ser feliz com o que se tem. (desde já vos digo que a busca do equilíbrio entre estes dois estados de alma, me estão a tornar num transtornado bipolar, maníaco-depressivo, mas cada vez mais interessante como ser humano!) LOL (Que falta de modéstia, não?)

Bem, de todas as formas, a vida continua, eu ainda estou vivo e por isso penso voltar a dinamizar este espaço e espero poder contar convosco para lerem o que modestamente escrevo, e até mesmo sugerir algum tema relacionado com os objectivos básicos deste Blog. Teria muito gosto em escrever sobre temas sugeridos por algum leitor.
Até breve! Agora sim será em breve.
Um saudoso abraço,
Zé Ninguém