terça-feira, 6 de julho de 2010

Notícias de Verao




Mais uma longa ausência... era aquilo que vos dizia há já algum tempo, por vezes não podemos viver e relatar a vida ao mesmo tempo, é preciso parar de a contar para a viver...
E essas vivências nem sempre são as mais esperançadoras, nem as melhores, nem sequer as que esperávamos, mas todas elas juntas são as que compõem a manta de retalhos que é a própria vida.
Desta vez, a ausência deveu-se a um momento de reflexão pessoal e conjugal. Não gosto demasiado de me meter pelos meandros da minha intimidade, mas contando com algum anonimato (e digo algum porque começo a contar com alguns leitores que me conhecem pessoalmente), posso fazer uma pequena incursão sem me sentir completamente violentado...

As relações duradoiras têm destas coisas... Se bem que não sou apegado a superstições nem a lugares comuns sobre os percursos das relações, uma vez que cada pessoa é um mundo (ergo, numa relação a dois as possibilidades são exponenciais)o certo é que muitas vezes ouvi falar da crise dos sete anos, e eis que surge justamente quando estamos juntos há sete anos e meio... mas enfim, uma das coisas que aprendi com a minha entrada nesta nova fase da minha vida, pós-HIV, foi que muitas vezes, há coisas que simplesmente não estão na nossa mão, e é necessário permitir que o destino e o livre arbítrio possam exercer as suas funções. Afortunadamente, parece ser que estamos já de saída deste impasse que durou demasiado tempo, e quase logrou consumir a minha própria essência... e pensar em realizar uma entrada no Blog sobre o divórcio pouco depois de vos ter contado o casamento, parecia-me irónico,ilógico, inconsequente para comigo mesmo, e de mau gosto.

Bem, além deste precalce, a vida cá continua. Foi com muito gosto que um dia me encontrei com a noticia sobre a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal, se bem que na minha opinião pessoal, esta lei é um perfeito tiro no próprio pé da comunidade LGBT portuguesa. Passo a explicar: O Artigo 13 da nossa Constituição diz:
"1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual."
Ora, a lei 9/2010 de 31.05.2010 desrespeita o numero 2 do referido Art. 13 da Constituição da República no que refere à não discriminaçao quanto ao direito/dever de adopção.
A meu ver, não se trata de uma questão de se os matrimonio LGBT têm ou não o direito/dever de adoptar, mas sim de uma questão humana do direito à protecção familiar a prestar a menores em situação de adopção. Obviamente será preferível que os menores tenham a oportunidade de ser integrados numa família, seja do tipo que fôr, em contraposição a serem submetidos a um internamento, muitas vezes de qualidade questionável, em instituições de carácter social. Os menores têm o direito a ter uma família, um entorno afectivo e educativo, no qual se encontrem asseguradas todas as suas necessidades pessoais e/ou humanas.

Voltando à minha vidinha, devo confessar que não está nos meus planos adoptar, pelo menos num futuro próximo, embora a lei Espanhola mo permita, já que não poderia assegurar a cobertura das necessidades materiais de uma criança. A crise continua a fazer estragos na economia doméstica, e não creio que seja o momento. Mas devo confessar que a ideia de adoptar uma criança seropositiva e poder proporcionar-lhe um lar, uma família, um meio afectivo favorável e compreensivo, me tem cruzado a mente várias vezes... espero não deixar este mundo sem ter a oportunidade de o fazer.

Em questões de saúde, tudo continua sobre rodas, pelo menos por enquanto. A minha carga viral continua subjugada à tirania dos fármacos anti-retrovirais, e os meus linfócitos T CD4+ vão-se multiplicando e estão cada vez mais fortes e frondosos!
Uma coisa porém me tem preocupado... circula um rumor entre os pacientes com HIV em Espanha, de que a medicação que estou a tomar (Atripla - terapia tripla de grande actividade agrupada numa só pastilha diária) irá ser retirada do mercado Espanhol sob o pretexto de cortes orçamentais na Saúde Pública Espanhola... Uma vez que esta terapia é extremamente cómoda e está a surtir os efeitos terapêuticos desejados quase sem efeitos secundários, a hipotética retirada deste fármaco é algo que me irrita profundamente.
Já sei que há milhões de pacientes noutros países e continentes que não têm oportunidade de aceder a qualquer tipo de medicação para o HIV, e que em comparação a minha reivindicação torna-se quase miseravelmente ridícula... mas num contexto local de um país dito de primeiro mundo, na realidade é um facto que me incomoda... A crise e a necessidade de reduzir gastos públicos será assim tão bestial que obriga a reduzir gastos neste campo, num país em que uma parte importante da população se dedica a labores estatais? Num país em que existem Senadores, Deputados nacionais, Governos regionais, deputados regionais, Edis municipais e afins? É preciso ver a quantidade de pessoas que isso engloba... São quase mais a mandar/decidir que a executar/obedecer... e tudo isto à conta do erário público, custeado pelos impostos que pagam não só os espanhóis, mas todos os que vivemos neste país...



Falando de temas menos densos, tive a oportunidade de estar presente na Marcha do Orgulho Gay de Madrid 2010. À cabeceira lá vinha a faixa sobre a visibilidade das pessoas que (con)vivem com HIV, tema que já tive oportunidade de abordar e manifestar a minha opinião pessoal anteriormente. Admiro a coragem de quem se prestou a levá-la na marcha. Além disso, foi uma tarde divertida, que passei em companhia de amigos, rodeado de um bom ambiente admirável, e que para falar verdade me proporcionou momentos de grande satisfação, culminando com um concerto de Kylie Minogue que presenciei quase em primeira fila e que desfrutei muito.

Só me resta desejar a tod@s @s que gentilmente visitam este espaço um excelente Verão e umas férias de descanso que tanto merecemos e desejamos...

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