domingo, 5 de julho de 2009

O regresso do filho pródigo

Volto em breve, depois de muitos meses de ausência ao seio familiar. É uma visita de necessidade, de reencontro, de amor e de saudade, mas ao mesmo tempo de incertezas e de mentiras.
É o primeiro regresso ao convívio familiar depois do inicio da terapia anti-retroviral. Desconhecem em absoluto a realidade, e deverão continuar no desconhecimento, mas agora, para além de me preparar para receber tudo o que me queiram dar, terei que estar preparado para que não se note a mentira que escondo. Este segredo que me vai carcomendo a consciência deverá manter-se no obscurantismo. Por um lado por mim, para não suscitar nem pena, nem preocupação, mas também por eles, porque imagino a frustração, o desespero, e a desilusão que representaria para eles o conhecimento do meu estado serológico.
Acostumado a viver vidas múltiplas, não me sinto com forças para manter uma encenação tão elaborada desta vez, porque me sinto ainda frágil, vulnerável, culpado, e até mesmo por vezes conspurcado e revoltado com o mundo... E se diante da sociedade é mais ou menos fácil manter uma barreira que isole o que sentimos daquilo que os outros percebem em nós, diante da família, é bem mais difícil, é virtualmente impossível, porque estão feitos da mesma matéria, porque vêm mais além dessa muralha, porque sentem o que sentimos mesmo sem que o digamos...
Tenho medo. Mas não de ser descoberto. De provocar sofrimento desnecessário. De incendiar uma angústia permanente, impossível de apagar, que teria sido bem mais fácil evitar... mas o que digo eu? "teria sido"... que inocente... Já deveria ter aprendido a não mencionar o que teria sido, mas sim e somente o que é e possivelmente será...
Espero poder manter a farsa... e desligar-me dela o suficiente para poder apreciar os momentos de convívio tão desejado e que tanta falta me têm feito.

2 comentários:

Anónimo disse...

è sempre dificil ocultar oa nossa doença.

Porque sofremos e nâo queremos fazer sofrer os nossos entre queridos.

mas a vida continua, e viver com o hiv no fundo nâo é muito dificil, é so estarmos sempre alerta.

Jávivo com ele ha muito anos e acreita que até me esqueço dele.

Sê feliz, é o que eu te desejo.

abraço

Zé Ninguém disse...

Obrigado pelo comentario. Eu ainda nao consigo deixar de pensar no HIV, mas espero poder aproveitar estas mini-férias para desligar um pouco... Boa falta me faz!
Um abraço