quarta-feira, 24 de junho de 2009

Alívio de Luto


Amanhã completa-se um ano desde o falecimento de uma querida pessoa de família. Não sei como encarar a situação, aliás, creio que hoje-em-dia poucos sabem...
Será que o que nos dói é simplesmente um reflexo egoísta por nos vermos privados da companhia de quem gostamos? Ou será que efectivamente o nosso luto se deve à transição a um plano espiritual que nos é mais longínquo?
A realidade da nossa sociedade actual é que a morte foi encasilhada num dos mais férreos tabus. Antigamente, os velórios em casa com as famílias de luto rigoroso, o vai-vem de vizinhas e xícaras de café ( ou até mesmo de alguma carpideira profissional) era um conjunto de rituais que de certa forma traziam a morte para a nossa vida. Uma pessoa vestida de luto, era interpretada como alguém em processo de sofrimento, que obedecia a determinados padrões de comportamento, e ao mesmo tempo evitava também que alguém "metesse a pata" ao perguntar sobre algum assunto mais delicado.
Até as crianças eram as últimas a dar um beijinho no avôzinho antes de se fechar a tampa do caixão.
Hoje em dia, tudo está mais "pasteurizado". O chorar em público está mal visto (obrigandonos a embutir sentimentos que só nos vão complicar o processo de superação), os velórios têm hora marcada de acordo com os horários das capelas mortuárias (o que para algumas pessoas supõe um trauma acrescido já que o que desejariam seria não separar-se do seu ser querido até à hora de o depositar na sua urna), e o tema das criancinhas... bem esse é melhor nem tocá-lo, porque para as crianças de hoje, a morte será certamente algo de extremamente desconcertante, uma vez que estão afastadas definitivamente de todo o processo pelos adultos que não entendem que se as crianças não tomam parte na morte de um ser querido, não entenderão que a sua própria vida é finita e que a vida deve ser interpretada como algo que terá um fim, logo haverá que não perder tempo com "birras" e maus humores que não levem a nada.
Entendo que numa sociedade como a actual, na que é preciso manter-se jovem a toda a custa para continuar a viver o consumismo, não convenha nada que as pessoas se dêem conta de que a vida tem fim... mas esta situação origina comportamentos pouco saudáveis que muitas vezes acabam nas consultas de psicologia ou até mesmo com recurso a psicofármacos (alguns deles com resultados questionáveis e com efeitos adversos mais que óbvios);
Por isso, há um ano atrás, vesti o meu fato negro com a minha gravata negra (aquela dos tempos de estudante que sempre tem mais significado para mim) e tentei viver o luto sem me poupar a nada.
Um ano depois, a sensação de perda ainda não está superada de todo, mas sinto que o processo de superação está a decorrer sem sobressaltos.
Além disso, apenas um mês e meio depois da morte desta pessoa de que vos falo, fui diagnosticado como seropositivo, o que me levou a pensar na morte ainda mais na primeira pessoa. Apenas 3 meses depois disso, comecei a tomar a medicação, e um dos efeitos secundários que tem é precisamente sonhar de forma extremamente vívida e real. Aproveito o "bilhete grátis" para essas viagens e visito quem já cá não está.
Devo dizer-vos que nesse plano semi-consciente, temos conversas do mais interessante e muitas vezes servem para me tranquilizar no que respeita à minha própria morte e à minha situação pessoal.
não sei o que será do meu corpo quando o dia chegar, mas como não posso fazer mais do que um testamento vital expressando a minha vontade, uma vez que aconteça, deixarei que outra pessoa se (pre)ocupe desses detalhes...

terça-feira, 23 de junho de 2009

...e eu tao longe...


Por estes dias, sei, imagino e sinto a alegria que paira pelas ruas do meu querido Porto. São dias de festa. De manjericos e de sardinha assada. Não faço a mais pequena ideia do impacto que a crise financeira possa ter tido na vontade de comemorar do meu povo.
Se nunca foi uma festa burguesa, o S. João, bem apelidado de Santo Popular, é festa para todos, embora bem me lembre eu que desde a minha infância até ao ultimo S. João vivido em directo, este sofreu uma transformação abismal em mais uma festarola consumista na qual já não importava tanto o saltar das fogueiras e o compartir a sardinhada com os vizinhos, mas sim, quem tinha o maior manjerico e quem tinha o martelinho da moda. Haverá males que vêm por bem? Poderá a falta de recursos empurrar o povo para esse espírito de partilha e de verdadeira festa popular de outrora?
Bem... resta-me dizer que eu... longe de todos esses aromas tão familiares nestas datas, ando por terras onde cheira a azeitonas e a terra quente. Não poderei festejar como bom portuense. Mas além disso sinto já que não devo. É o que tem viver fora da terrinha, no fim de contas, não celebramos as nossas festas, nem sentimos as dos que nos recebem...